segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

There's no place like home


Doce e encantadora, ela decolara sentada na janela, de onde pode ver a grande cidade que deixava para trás. Rumo ao céu em suas elevadas altitudes, a terra ficava cada vez mais distante. Voando, o avião cortara as nuvens e passara por elas com a leveza de um pássaro. Acima das nuvens de algodão era possível ver o sol, cujo ciclo diário se fechava, deixando no céu um mesclado de vermelho e laranja quase mágico de tão belo. Ela pensara em fotografar, mas percebera que aquele era um momento único que não poderia ser dividido com mais ninguém. Por alguns instantes estivera tão perto das nuvens que sentia como se pudesse tocá-las, elas formavam um tapete branco e sereno que se assemelhava à enormes porções de algodão doce. 
Olhara ao seu redor e vira que o desconhecido homem ao seu lado vestia seus óculos e lia um livro em uma língua diferente, talvez alemão. Imaginara se ele também havia estranhado o livro em suas mãos. Dentro de seu livro, havia uma foto que a fazia ansiar pelo futuro. A foto daquele que a fazia estar admirando o azul do céu com um olhar um tanto quanto apaixonado. E apesar de estar sozinha, sentia-se segura. Sabia que um anjo da guarda nunca a abandonaria e que ele estava próximo a medida que se aproximava do céu. Eram estes momentos de reflexão que a enchiam de esperança e força para continuar a viver. O que alguns entendem como solidão a tornava mais forte. "Você nunca estará sozinho se souber como chegar a si mesmo", diria ela a uma amiga que a questionara sobre a solidão. A verdade é que ela tinha tudo no pouco que a pertencia. 
O gigante e já distante tapete branco a fez perceber que estava mais alto do que imaginara. O horizonte alaranjado a lembrava de que ela era apenas um ponto na imensidão de seu mundo. Acima das nuvens, percebera que não conhecia quase nada e nem teria chance de conhecer todos os cantos nesta vida. Somos tão pouco e ao mesmo tempo nos sentíamos tão grandes. Mera ilusão humana. Para ela, a razão de estar aqui mesmo sendo tão pouco era cumprir a sua missão. Havia lido em algum lugar que cada um de nós éramos seres espirituais tendo uma experiência humana e talvez fosse exatamente isso. Nossos sentimentos e relacionamentos são vestígios de algum outro mundo ainda presentes em nossa memória, por isso são tão valiosos. O amor é o que deve guiar dentro desta experiência. Só assim poderemos chegar a essência de seres humanos... 
Acabara de ler mais um romance, mais um livro que iria para sua lista de favoritos. Uma história sobre amor, esperança, vida e morte... Uma ficção na qual pode identificar muito de sua própria vida - seu anjo da guarda, sua esperança e seu amor. Descobrira também uma palavra encantadora, querência, do espanhol: porto seguro; era exatamente o que ela gostava de chamar de wonderwall. Diferentes línguas para um sentimento universal: o amor, incomparável e seguro amor que faz com que aquela pessoa única se torne como um lar, ao qual você sempre deseja voltar. Ela continuou pensativa até chegar a conclusão de que seu maior desejo era que este avião estivesse retornando ao seu lar, onde a lua tem um brilho especial e o sol aquece, trazendo de volta seu calor.

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